Neko

29.05.25- atualização em emaranhado

21.03.25- blog criado :)
sobre divagar ~
sou uma pessoa que não escolhe o caminho da praticidade. essa “agilidade” só aparece para mim, estritamente se necessário, quando sou forçada a sair do meu estado habitual. ultimamente, tenho percebido o quanto isso se manifesta em vários aspectos da minha vida: na forma como ajo, como realizo atividades, como me expresso e na maneira como me relaciono.

mas gostaria de enfoque à forma como me expresso — à minha linguagem, especificamente...

por mais que existam meios de transmitir o que desejo de um jeito mais sucinto, sempre acabo optando pela opção mais prolongada que minha cabeça consiga produzir. tenho essa sensação de que o caminho "sucinto" e "direto ao ponto" não diz, de fato, o que eu realmente gostaria que fosse dito. sinto que, para ser realmente entendida, preciso que esses espaços sejam preenchidos.

mais que isso! tenho, para mim, que as pessoas, propositalmente, deixam espaços a se preencher.estes, os espaços, normalmente, são deixados ao bom senso do ouvinte.

talvez quem os deixe pense consigo: “não acho que seja possível a interpretação além da minha intencionalidade.”

por que falar o óbvio?

este é o cerne... geralmente, as lacunas não são preenchidas adequadamente.

sempre me estendi pelo medo de não ser entendida, de que minhas palavras saiam de mim e sejam carregadas com significados que não lhes pertencem e, portanto, fez-se necessário (juntamente da minha natureza lenta e enrolada) que minhas palavras fossem cheias de ensaios mirabolantes que tentassem tocar o mais perto de meus pensamentos originais.

teoricamente — e ênfase em teoricamente — isso resolveria o problema inato de comunicação do ser humano, não? estaria despejando toda a sinceridade e, não apenas isso, como também compartilhando o processo de meu pensamento, as contradições dos meus sentimentos e quaisquer outras coisas que aparecerem no caminho. não estou apenas entregando o produto, mas também expondo cada etapa de fabricação, cada erro e acerto.

são mesmo divagações, se nada humano é realmente objetivo? e, mesmo que fosse, interações pessoais precisam ser ágeis?

passei a compreender que, em boa parte das vezes, os práticos possuem a mesma praticidade ouvindo. é como se estivessem procurando o "ponto" em uma linha reta — ou melhor, em uma enorme espiral, a qual só se acha o centro caso seus dedos sigam desde o ponto de partida. as lacunas, mesmo preenchidas, não são vistas, pois existe uma triste realidade em que você não pode se fazer ser entendido, a não ser que o outro queira lhe entender. é óbvio, mas ser óbvio não torna menos insuportável de digerir. (ademais, quero esclarecer que, quando falo em ser compreendida, não estou falando que há necessidade de qualquer concordância; também gosto de ser compreendida o suficiente para que possam discordar e me repreender.)

seria eu muito idealista em pedir isso? nós somos capazes de nos entender? existe sentido em toda essa tentativa?

pois bem! gosto de pensar que a resposta para tudo isso é não.

assisti, recentemente, ao filme “before sunrise”; me levou muito tempo até assistir, e creio que muitos, lendo, já tenham tido contato com a obra. o mencionei porque uma cena, em específico, em um pequeno monólogo de uma das protagonistas (celine), ficou em minha cabeça. acho que ele põe as palavras do jeito que eu gostaria.

“Acho que, se Deus existe, ele não está em nós. Nem em você, nem em mim, mas no espaço que nos separa. Se há algum tipo de mágica neste mundo, ela deve estar na tentativa de entender alguém, de compartilhar algo. Eu sei que é quase impossível conseguir isso… mas quem se importa, de verdade? A resposta deve estar na tentativa.”


o importante é tentar. se eu não divago (e, novamente, tenho meu questionamento se são realmente divagações, se as considero tão valiosas para o todo), como o outro pode sequer tentar me entender? não seria fiel à minha natureza e, por isto, não haveria eu.

fui abençoada com pessoas as quais talvez eu nunca vá entender, mas eu nunca deixaria de tentar e encontro um prazer delicioso nessa lenta tentativa. pessoas que não me entendem, mas por muitas vezes chegam perto, pessoas que não entendem mas vêem.

celine
celine2


( ao fim desse texto, notei que não há qualquer conclusão :-) )

29/05/2025
Wonderland